sábado, 12 de abril de 2008

Reconhecendo os iguais

Eu imaginava as pessoas como separadas por categorias. "Ali vão os populares, ali estão os ricos, ali estão as gostosas, ali estão os pegadores, de resto, os medíocres...". Essa análise categorizadora separava as pessoas em caixas.

Cada caixa tinha toda uma historinha pra cada pessoa que fazia parte dela.

As gostosas eram lindas sempre, não tinham defeitos, eram populares, tinham mil caras atrás delas, não sofriam rejeição de ninguém e eram 100% felizes e faziam festa em todo lugar.

Os populares eram extremamente bem conectados, conheciam todo mundo e eram adorados por todos. O seu círculo era aonde estavam e sabiam conhecer novas pessoas como ninguém.

Os pegadores eram caras que se viravam em qualquer lugar, tiravam mulher com namorado e comiam, faziam horrores.

Os ricos eram pessoas que sempre estavam confortáveis, conseguiram a sua fortuna sempre através do seu esforço, eram trabalhadores 24/7 e eram extremamente dominantes. Ninguém mexia na sua realidade.

Já os medíocres são ex-sonhadores, que tiveram que amargar a derrota e sair do jogo, trabalhando em algum lugar que eles não gostavam, aguentando um chefe que leva eles à beira do suicídio, tiveram filhos por acidente e tem amigos que não gostam e que não gostam deles. São as "unthinking masses".

O problema disso é que essa visão era baseada na máscara apresentada por essas pessoas. Não via através dos panos, por trás dos bastidores, o que realmente acontecia. Não via os problemas. Aliás, eu "via os bastidores", só que na verdade era uma criação da minha imaginação baseada inteiramente na máscara. Uma versão idealizada, e longe, longe, longe, longe, da realidade.

Isso também fazia com que o meu estado fosse baseado em critérios ruins e totalmente instáveis, porque quando eu vi uma pessoa que eu achava de alto valor, meu estado baixava, quando eu via alguém de baixo valor, aumentava. O problema é que eu (e todo mundo), por causa do RAS (Reticular Activating System) tende a olhar pras pessoas de alto valor, então você acaba se sentindo ruim em quase todas as situações.

E mesmo a sensação boa que vinha de se sentir superior, durava pouco, e depois que acabava o efeito, dava síndrome de abstinência.

Um exercício bom para combater essa visão categorizadora e preconceituosa é reconhecer o que de igual se tem em cada pessoa. Mesmo que a reação inicial seja de: "ARGH, nunca que eu sou igual a esse cara", volte, olhe de novo. Se for um punk, você talvez inicialmente olhe para o cabelo espetado, e veja, como ele é uma pessoa que foi atrás da sua identidade e quer se destacar entre os outros, não quer ser comum. Isso eu imagino que você também queira ser.

Mas na maioria das pessoas, vai ser tranquilo achar alguma coisa que você se identifique. Se você ver um cara engravatado, talvez seja só mais um cara indo atrás da carreira dele, dos planos dele. Ou talvez seja só um advogado em início de carreira. Se for uma tia com uma sacola, provavelmente é uma mulher que está na correria pra ter que se sustentar. No fundo, estamos todos lidando com as demandas das nossas vidas utilizando nossos recursos.

Uma coisa que é você pode inicialmente querer sempre se identificar com as pessoas de alto valor do lugar. E isso pode te enganar. Um momento que me baixou o estado foi uma hora que eu estava num ônibus. E nesse ônibus não tinha ninguém muito bonito, nem rico, mas eu ainda assim me forcei a ver como igual a todo mundo. E consegui me ver como igual. Só que isso não me fez feliz no momento, porque eu tive que confrontar a crença que eu tinha que aquelas pessoas eram medíocres, porque se eu era igual a elas eu também estava na mesma categoria. Isso me ajudava a me sentir superior, mas não me ajudava em nada em sentir confortável nem em poder conectar com os outros. E hei, eu estava no ônibus também, com todo mundo dali. Não tinha nada pra me achar nem pra me envergonhar por causa disso.

Enquanto você está fazendo esse exercício, o seu ego vai começar a assoprar na sua orelha, como um diabinho: "Você é melhor do que eles. Você não precisa se sentir ruim. Se você não é tão bom agora, vai se sentir melhor depois. Não se preocupa.". Seria fácil voltar, mas a decisão foi tomada e não quero mais voltar atrás.

Os negros eram pessoas que eu não tinha preconceito e tratava como iguais. Mas será que eu olhava para eles como iguais? Ou eu me forçava a tratar como igual para me sentir não preconceituoso. Aì eu comecei a olhar as pessoas negras na rua e ver o quanto eles passam pelas mesmas coisas e situações como eu.

Um sentimento imenso de relaxamento quando vi que todos tem basicamente a mesma essência, que vai se moldando através das experiências. Todos nascem biologicamente com o cérebro igual, e vão se moldando através dos acontecimentos da vida dependendo das circunstâncias.

Eu criava um ponto cego quando não via isso, porque me colocava na situação dos outros e achava que se eu tivesse na situação do outro, eu faria outra coisa. Talvez faria, mas por ter tido outras experiências, outros conhecimentos. Mas talvez não faria, porque não estava vendo as dificuldades, estava olhando a situação de fora. Olhava com a visão perfeita, porque as pressões da situação não estavam caindo sobre mim. É como ver o médico que fez um erro médico e falar: se eu fosse ele, nunca teria feito isso, teria ficado até várias horas fazendo a cirurgia, não teria feito uma cirurgia estando cansado. Mas talvez ele esteja trabalhando há dias sem dormir, talvez ele esteja sob pressão de várias pessoas. É muito fácil pra eu olhar de fora e dizer que eu faria diferente. Mas só estando na situação pra saber.

Meus pais brigavam. Muito. Faziam barracos em vários lugares, era bem pesado o clima lá em casa. E eu sempre achei a minha família era a que brigava mais. Todos poderiam até brigar, mas a minha brigava mais. Eu achava que era o único.

Ver os outros como iguais ajuda tremendamente para não se identificar com os problemas. Porque você vê que qualquer problema que você tenha, muitas pessoas próximas de você já passaram por isso. Muitas vezes eu via o problema dos outros e criava um ponto cego pra não ver. "Ah, tal pessoa a família pode até brigar, mas nada comparado com as brigas que tem na minha família". "Ah, essa pessoa pode até estar vendo um pouco a realidade, mas eu vejo a realidade muito melhor que os outros". E por aí vai, pra cada inconsistência nesse meu modo de ver, eu criava uma historinha que justificava aquilo.

E essa justificativa foi a origem de tudo isso, porque eu lembro que começou no colégio. O que não começa no colégio? hehe. Porque quando meus pais brigavam ou brigavam comigo e meus irmãos logo pela manhã, eu ia pra aula com um estado horrível, e não conseguia socializar com os outros. E o que o meu cérebro falava: "Não te preocupa, não precisa se sentir diferente. Você só não socializa porque seus pais brigam. Você é melhor que eles nos estudos, é mais inteligente, mais esperto, saca mais as coisas, você é melhor que eles.". Só que isso mais ajudava a me sentir bem do que me ajudava a me sentir igual e poder socializar. Na verdade, me afastava mais ainda dos outros, porque não permitia que eu me visse nos outros. E eu não permitia que os outros me vissem como igual.

O jeito que você trata você é o jeito que você trata os outros, e vice-versa. O jeito que você vê uma pessoa tratando a outra, pode ter certeza que é assim que ela se trata nos bastidores internos, na sua cabeça. À medida que você vai se vendo como igual aos outros, você vai aceitando o outro, e principalmente se aceitando.

Agora eu vejo porque muitas vezes quando alguém estranhava que eu não socializava, não era porque estavam tirando com a minha cara, ou porque queriam que eu me sentisse pior. É porque eles me viam como iguais e não entendiam porque alguém que era igual a eles não queria socializar com eles.

Vendo os outros como iguais, muitos ideais vão se quebrar, porque você não ver aquele seu ídolo ou pessoa que você admira, como alguém sem dificuldades, que passou da mediocridade pra excelência em um pulo, ou mesmo que sempre foi excelente. Você vai começar a se deixar ver os pontos em que aquela pessoa foi fraca, ou não conseguiu fazer o que queria. Eu li a biografia do Marlon Brando, e lia sobre como ele não se achava nada, se achava uma porcaria na verdade, e eu pensava: "nossa, como ele é charmoso, consegue 'mostrar' humildade e um lado humano", ao invés de ver que ele estava realmente sendo humilde e que ele É HUMANO, ORAS! Meu próximo livro a ler vai ser alguma biografia, mas com esse novo par de olhos.

Ver o outro como igual, não quer dizer que todos são objetivamente iguais, porque não somos. Cada qual tem uma experiência de vida. A mudança é em como ver o outro, em que parte do outro você vai focar, naquela em que você é melhor ou pior ou na parte em que você é igual ao outro? Qual parte vai ajudar você mais a se conectar com o outro.

Essas duas visões, entre ver os outros como iguais e ver os outros como melhores/piores é uma decisão pessoal, porque no final das contas, a realidade objetiva é a mesma. É uma questão de decidir qual traz mais benefícios para si, e como isso vai mudar a maneira como você interage com o outro.

Uma dificuldade que eu ainda tenho é de me identificar com as outras pessoas em vários aspectos que eu acho que não tenho. Mas isso acredito que com o tempo eu vou tirando as vendas de cavalo dos meus olhos e vendo a igualdade em todos.

Esse é um tópico de começo de caminho, ainda estou dando os primeiros passos, mas digo que mudou muita coisa na minha cabeça e me trouxe vários choques que eu vou observar aos poucos e mudando meus pontos de vista.

A realidade é uma só.

Mas as formas de ver ela... quanta diferença!

David Guetta - The World Is Mine

Porque só por hoje, o mundo é meu.



I believe in the wonder
I believe this new life do can
Like a God that I'm under
There's drugs running through my veins

I believe in the wonder
I believe I can touch the flame
There's a spell that I'm under
Got to fly, I don't feel no shame

The world is mine
The world is mine
The world is mine

I've lost my fear to war and peace
I do my best (the world is mine)
You take the price and realize
That to your eyes (the world is mine)

Take a look what you've started
In the world flashing from your eyes
And you know that you've got it
From the thunder you feel inside

I believe in the feeling
All the pain that you left to die
Believe in believing
In the life that you give to try

The world is mine
The world is mine
The world is mine

I've lost my fear to war and peace
I do my best (the world is mine)
You take the price and realize
That to your eyes (the world is mine)

The world is mine
I've lost my fear to war and peace
I do my best (the world is mine)
You take the price and realize
That to your eyes (the world is mine)

I've lost my fear to war and peace
I do my best (the world is mine)
You take the price and realize
That to your eyes (the world is mine)

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Senado ou presidência

Quando criando um programa, fiquei em dúvida quanto a fazer um programa em um serviço do Windows ou em ícone na bandeja

Eu sempre tive uma abordagem minimalista e simplificadora dos problemas de software e nunca me agradaram ter que encher a tela de coisas. Quanto menos coisas, mais foco.

Antigamente isso era um problema no 95, quando os ícones não usados continuavam aparecendo, e o que se tinha era uma bandeja de sistema de 2 metros. Mas agora no XP, todos os ícones não usados são automaticamente escondidos, o que ajuda bastante o usuário a ter mais espaço e não se distrair com milhares de ícones coloridinhos. O que pode atrapalhar também são as cores, que não podem ser extremamente chamativas, como roxo, vermelho rubi, verde limão, amarelo.

Esse problema não afeta softwares feitos sem qualquer objetivo de divulgar a marca do criador. Quando se é um programa sem fins lucrativos, como os softwares livres, a intenção é mesmo que ele não apareça e somente faça o seu trabalho. O que também não condena que alguns softwares livres façam sua propaganda básica pra espalhar a palavra e quando alguém vier respirar no seu pescoço, perguntar "Que software legal é esse?".

Ao mesmo tempo, o software não quer desaparecer na miríade de coisas que o usuário tem que fazer. Se for um software comercial, ao mesmo tempo que quer fazer o seu trabalho, também quer divulgar a marca do fabricante e a do próprio software, para gerar buzz e novos negócios.

Esses objetivos de marketing também é a mesma causa pela qual se criam trocentos atalhos no menu iniciar com dois metros de comprimento. "Fabricante > Power Mega Plus 3.431 beta > Iniciar o software de gerenciamento de inicialização do agente Power Mega Plus 3.431 2008 beta". Mesmo o Google, que tem por lema a simplicidade e a transparência, também usa de propaganda aqui e ali pra divulgar seus softwares. O Google Web Accelerator é um caso típico. É um software pequeno, que tem utilidade discutível hoje em dia (acelerar o carregamento das páginas), mas que ocupa lugar no canto do seu Firefox e na bandeja de sistema.

Tem que se achar um equilíbrio entre aparecer para divulgar, mas não aparecer demais para não atrapalhar o usuário. Não é uma fórmula matemática. Nessas horas o que vale é o bom senso. Mas vale fazer a pergunta: "Como eu me sentiria na situação do usuário?".

É mais ou menos quando uma ação é feita pelo Senado/Câmara ou pela Presidência. Quando é feito pela Presidência, todos sabem quem foi, foi o Lula/FHC, etc. Quando é pela Câmara (digitei "Câmera" duas vezes), é uma entidade difusa, sem "cara". Ou seja, quando amam ou odeiam, pode ser alguém ou pode ser ninguém. Se hoje fosse aprovado um abono obrigatório de R$1.000,00 no seu salário e ele fosse aprovado pelo presidente, você provavelmente exclamaria: "Obrigado Lula". Já se fosse feito pela câmara, você exclamaria: "Todo mundo pra pizzaria, hoje!". A mesma coisa com a diferença serviço do sistema/item da bandeja.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Ócio ativo

No livro "A Arte da Guerra" mostra que muitas vezes é melhor fazer nada. Cada ação gasta energia mental, emocional, física, além de tempo. E esses são os recursos mais preciosos pra qualquer pessoa. Saber quando usar ou não esses recursos é algo que se ganha através de aprendizado, mas principalmente de experiência.

Transformando insuficiências em falsos valores

Como as pessoas transformam insuficiências em falta de valores externos.

Como a pessoa que está num jantar, a outra pessoa trata mal ou não reconhece e a outra pessoa fala que é mala ou falta de lealdade. Ou quando duas pessoas tem que decidir entre duas atividades, uma legal e a outra chata. Se escolhe legal a outra parte fica achandoque foi falta de lealdade, pra não trazer a responsabilidade e o problema de ego para si.

A teoria de Nietzsche da falta de moralidade para a criação do Ubermensch é isso.

Criar valores também são tentativas de controlar os outros, principalmente pra compensar a própria infelicidade. Sabe aquela tia que fica na janela do seu prédio vendo todo mundo passar e chamando de safado quem fica se agarrando? Então, quer jogar a própria infelicidade contra os outros.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Atingindo a maturidade

Antigamente os rituais de iniciação à maturidade eram feitos nas tribos, sob experiências tortuosas, como os ritos indígenas em que se "matava" a criança e se nascia o adulto. Eram rituais dolorosos, mas tinham uma separação clara e direta, marcada por pinturas, maneirismos, exclusão de certos ritos entre o que era ser adulto e o que era ser criança.



Hoje isso não acontece mais se caçando um urso com a unha. Hoje existem outros rituais, apesar de incompletos, como se mudar pra outra cidade para fazer uma faculdade, o trote da faculdade, fazer um intercâmbio no exterior, servir ou ingressar nas forças armadas. A entrada num time. Ou organizações que fazem esse processo, como Maçonaria (com os Demolay), os Escoteiros, Bandeirantes, a religião.

Mas poucos desses processos são completos e/ou saudáveis ou mesmo são úteis para transformar o adolescente em um adulto e encarar as responsabilidades do dia-a-dia. Também em muitos faltam a separação clara entre os dois estágios. E ainda mais, e quando esse processo não acontece?

Quando esse processo não acontece, gera o que você vê em muitos casos:

  • Homens de 40 anos que não saíram da casa da mãe.
  • O costume que é comum agora, de jovens de até 30 anos dependerem dos pais, o que não ocorria nos anos 60 por exemplo, em que o jovem aos 18 anos já queria sair de casa.
  • Tios pagando de garotões quando já velhos, querendo imitar a rebeldia e a jovialidade da galera mais nova.
Devido à corrida do dia-a-dia, pais sem tempo e despreparados para cuidar dos filhos, pelo fato de muitos desses pais também não terem atingido a maturidade. O que acontece hoje é que os adolescentes tem que se criar por si próprios.

E portanto adotam os traços que eles imaginam que os adultos usam. Roupas, jeitos de falar, maneiras de se portar. Geralmente imitando seus companheiros mais avançados de idade, o que acaba gerando uma versão caricata de um adulto.



Aos poucos o jovem vai aprendendo o que realmente daquilo tudo ele acha importante, e o que fazem disso os seus gostos pessoais, e vai descascando essa persona de adulto que ele adquiriu.


Esse processo se inicia com uma busca infindável sobre quem é você, o que você gosta, quais os seus hábitos, as suas crenças, as suas atitudes com relação à vida. Essas atitudes só podem ser medidas por observação e muitas vezes é diferente do auto-conceito que a pessoa tem. É preciso muitas vezes um observador externo para completar a imagem que o ser humano tem.

Muito desse processo se dá por pressão social. À medida que o jovem é obrigado ou se obriga a se inserir no mundo adulto, as pressões que você vai recebendo de colegas, amigos, conhecidos, clientes, ou simplesmente passantes, e principalmente a percepção que você vai fazendo dessas pressões, vai ditando a imagem interna de quem você é.

Mas isso não quer dizer que toda pressão vá moldar a pessoa na mesma direção em que ela é aplicada. Nem sempre quando alguém é criticado, a pessoa elimina o traço criticado. Muitas vezes a crítica serve como confirmação de quem se é e pode delinear ainda mais os traços criados.

Isso é especialmente verdade no caso de pessoas que lidam diretamente e constantemente com o público, e cujo trabalho é simplesmente uma expressão da sua personalidade, como músicos, políticos, artistas plásticos.

É através da expressão do seu fogo interno, lidando diariamente com as pressões que recebem do mundo externo, é que vão moldando o que acreditam ser sua identidade.

É quando você se apresenta ao mundo e diz: é assim que eu sou.