Foi publicado no blog do Cacau Menezes, mas como acredito que não foi ele que escreveu, e sim o inspetor-chefe, reproduzo aqui.
Excelente para ver como o trabalho de investigação anda se especializando com a ajuda da tecnologia da informação. Só tinham que arrumar nomes melhores pra esses sistemas. É tudo uma coisa insípida. Pelo menos já passamos da época das siglas, que algumas empresas de tecnologia adoram adotar (GTO, NTO). Depois reclamam que isso não é divulgado ou que o produto não consegue vender. Coitado do vendedor que tem que divulgar um sistema chamado GTC, APD, ou qualquer porcaria assim. A Polícia Federal é que é esperta. Cria nomes incríveis pras operações. Por isso sempre tem cobertura na mídia.
A respeito da apreensão de 627 quilos de cocaína pura procedente do Equador, efetuada no Porto de Imbituba, em primeira mão, Cacau conseguiu algumas informações com Mario Reifegerste, inspetor-chefe da Inspetoria da Receita Federal do Brasil em Florianópolis.
1. A apreensão da droga, na verdade, foi decorrente de um trabalho de inteligência denominado "análise de riscos", que se dá através do cruzamento de diversos dados disponíveis nos sistemas da Receita Federal, contendo informações de operações de comércio exterior (importação e exportação), movimentação financeira, dados fiscais e informações sobre movimentações dos contêineres de empresas; ou seja, um trabalho inteligente efetuado por auditores fiscais capacitados para tal.
2. a partir do cruzamento de dados, o setor de Investigação da Receita Federal identificou que havia uma forte suspeita sobre uma determinada empresa que operava no comércio exterior, que importava óleo de palma do Equador e exportava parafina líquida para a Bélgica, sempre utilizando os mesmos contêiner-tanques. (Detalhe: Santa Catarina não é produtora de parafina líquida, sendo que este produto é produzido na Bahia.)
3. Utilizando um sistema recém implantado pela Receita Federal, denominado "Siscomex Carga", que controla todas as operações de comércio exterior do país, a equipe de investigação identificou que a empresa suspeita, que era sediada em Fortaleza e possuía uma filial na cidade de São José (SC), acabara de receber um contêiner-tanque contendo óleo de palma, procedente do Equador, que se encontrava armazenado no porto de Imbituba, aguardando os procedimentos de importação (registro da declaração de importação e pagamento dos impostos); Este container, que na verdade já estava com a droga oculta, seria utilizado em um momento subsequente, para exportar a cocaína para a Bélgica, numa operação de exportação de parafina líquida, o que não chamaria a atenção das autoridades daquele país.
4. A partir de todas as evidências acima, a Receita Federal passou a monitorar o contêiner, dentro do Porto de Imbituba. O objetivo da Receita Federal era levar o contêiner na quinta-feira (29) para o Porto de Itajaí ou de Navegantes, onde seria submetido a uma inspeção através de um moderno equipamento de raios-x (scanner), para tentar identificar uma possível existência de drogas ocultas no equipamento.
5. Para confirmar a suspeita de drogas, a Receita Federal solicitou à Polícia Civil de Santa Catarina uma inspeção do container através de cães farejadores. Atendendo a solicitação, o Delegado da Polícia Civil e treinador dos cães, Eduardo Hahn, esteve no Porto de Imbituba na quarta-feira, 28, com dois cães farejadores.
6. Os dois cães utilizados foram certeiros, demonstrando através de seu comportamento que não restava dúvidas de que havia drogas ocultas em uma das extremidades do contêiner-tanque.
7. A partir desta confirmação, a Receita Federal acionou a Polícia Federal, através do Delegado João Vieira, da Delegacia de Entorpecentes, que com sua equipe se dirigiu ao Porto de Imbituba. Também foi acionada uma equipe do corpo de Bombeiros, para auxiliar nos trabalhos.
8. Havendo forte suspeitas, a Inspetora-Chefe da Receita Federal em Imbituba autorizou que o contêiner-tanque fosse cortado, o que foi efetuado pelo Corpo de Bombeiros, após o que foi identificado em seu interior um compartimento preparado, onde foram encontrados os pacotes contendo 627 quilos de cocaína pura, apreensão recorde em SC, que seria destinada para a Europa.
DETALHES
Esta empresa possui mais 5 contêineres-tanque alugados em seu nome, que podem estar sendo utilizados para transportar cocaína, razão pela qual a Receita Federal continuará as buscas para tentar localizá-los e tentar identificar outras cargas de cocaína. Entre 2006 e 2008 a empresa efetuou 6 exportações de parafina líquida para a Bélgica, utiliizando-se de contêiner-tanque. Isto significa que podem ter sido remetidos para a Europa, através destas operações, o equivalente a 3 toneladas de cocaína pura (ou US$ 30 milhões), o que somente foi interrompido graças ao trabalho de inteligência da Receita Federal do Brasil,com o apoio das Polícias Federal e Civil.
A Receita Federal está prestando todas as informações necessárias para a Polícia Federal, e espera que nos próximos dias a Polícia Federal efetue a prisão dos responsáveis por toda esta operação de tráfico internacional de entorpecentes.
A operação contou com o apoio fundamental da Polícia Federal , Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, sem os quais entendemos que não teria alcançado os objetivos. A Receita Federal também acionará as autoridades da Bélgica, para que seja efetuada investigação na empresa que importava as cargas de parafina líquida, o que entendemos que era somente um pretexto para o envio da cocaína para aquele país.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Como é feito o trabalho de inteligência na polícia brasileira
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