Passeando pelo Centro de Florianópolis depois de deixar minha namorada no concurso do Tribunal de Justiça, vi como esse bairro fica completamente vazio nos finais de semana, ou fora do horário comercial em geral. E então comecei a analisar a formação do bairro.
O bairro cresceu como um centro tradicional de qualquer cidade, e nesse caso capital de um estado brasileiro, que é reunindo os órgãos oficiais, além da igreja matriz e das vizinhas. A igreja já foi um marco importante no desenvolvimento da cidade, mas hoje é irrelevante pro movimento urbano na ilha, devido ao enfraquecimento da igreja católica nas capitais. Mas os órgãos continuam com grande força no centro como matrizes do desenvolvimento.
Em torno desses órgãos, cresceu o comércio tradicional, de roupas, eletrodomésticos, óticas e xerox. A demanda por esse comércio só existe por que no início houveram os órgãos oficiais, que criaram tráfego de pedestres. Esse tráfego criou a oportunidade de se vender artigos e prestar serviços ao redor para abastecer os trabalhadores dos órgãos durante o intervalo do trabalho e na hora de entrada e saída do expediente (mais na saída que na entrada).
Criaram-se então, lanchonetes, que funcionavam como ponto de encontro, como antigamente havia o famoso Senadinho. Além de casas de cópias, papelarias. Por volta criaram-se cartórios, necessários à protocolação de documentos oficiais e hoje existem as casas de informática. Esse "comércio" tinha uma necessidade governamental e existiria em algum lugar, qualquer que fosse. Quer dizer, a cidade
Só que aproveitando a demanda e o fluxo de pessoas, a localização central, e a necessidade de qualquer cidade de ter seu comércio, criou-se o entorno de comerciantes de produtos acessórios, como cabeleireiros/barbearias, vendas de sapatos, lotéricas, óticas, lojas de roupa, engraxates.
Esses serviços e produtos acessórios vive numa colônia, tendo uma simbiose onde um negócio alimenta o outro, fornecendo meios para que se crie um círculo virtuoso. Não de prosperidade abundante, porque o fato de se tratarem de funcionários públicos e vendedores, ambos com salários modestos, não permite, mas de sustentabilidade e tranquilidade para os comerciantes locais. Essa tranquilidade gera um clima nos comerciantes de apatia, falta de competitividade e inovação. Isso criou uma rede de comerciantes, vários de origem turca e libanesa que domina o mercado local.
Essa movimentação até pouco tempo era saudável e sem preocupações, mas com o aumento da população da capital, tanto o natural quanto a migração, teve consequências funestas para o desenvolvimento da cidade. Na verdade isso só revelou problemas já ocultos na estrutura de desenvolvimento da capital. O crescimento localizado em um só foco, a falta de opções culturais, o mau tratamento dado aos mendigos e crianças de rua no governo do prefeito Dário, viraram feridas expostas assim que a pele de Florianópolis ralou devido ao vai-e-vem de pedestres.
A Ilha cresceu, não é mais a Florianópolis de antigamente, e os saudosistas que se acostumem, pois o progresso veio pra ficar. Não dá pra planejar Florianópolis com os olhos de 20, 30, 40 anos atrás. O aumento da população cria mudanças no comportamento, já que a quantidade de gente, diminui a quantidade de olheiros do comportamento e marias-futrica pra ficar vigiando o comportamento de cada um. Isso deixa a pessoa à vontade, até demais às vezes para adotar comportamentos, que antigamente, quando "todo mundo se conhecia", e que existiam as "famílias poderosas" da cidade, as pessoas não faziam. E se vê então diversos retratos de falta de educação e respeito entre os cidadãos.
Mas ao mesmo tempo, dá liberdade para que se fuja da mesmice, e não se precise seguir o comportamento padrão, pasteurizado. A Ilha está mais plural. Está longe de ter uma produção cultural própria efervescente, o que se vê é uma iniciativa cá e lá. Mas quem vive aqui pode, mas não precisa mais fazer o êxodo para São Paulo em busca de novos horizontes. O crescimento trouxe muitas oportunidades para quem quer inovar, criar. E em pouco tempo a inovação vai ser necessidade, e não oportunidade, já que investimentos de fora trazem expertise ausente na capital, tomando de supetão o comércio que há muito anda despreparado para esses novos horizontes que apontam.
Os problemas de hoje, da falta de programação cultural e do descaso com a mendicância e os pequenos assaltos no centro da capital tem cura.
A alternativa a isso, seria a movimentação cultural do centro. Com o aporte de pessoas de fora da ilha, criou-se uma demanda por eventos que fujam à rotina da cidade. Mesmo com a demanda da ilha dá para criar eventos que não precisam ir muito além do tradicional boteco e petiscos. Não precisa de nada inovador, apenas preencher uma lacuna que já existe. Mas tem que haver vários bares e um perto do outro para criar assim um movimento grande no lugar. Algo parecido com o presente em Curitiba ou na Lapa - Rio, onde vários bares ficam um do lado do outro, facilitando o acesso e criando demanda, já que quem não gosta de um vai pro outro.
Alfândega à noite
Catedral à noite
Centro histórico à noite
Vista noturna do centro de Floripa
Mercado público à noite
Forte Santa Bárbara.
Eventos como apresentações de samba, além de atrações alternativas criariam demanda para os bares e restaurantes que resolvessem se instalar no centro. A programação e divulgação de eventos populares tende a criar coisas para se fazer já que normalmente não se tem nada.
O comércio hoje continua fortemente também por causa dos moradores que se instalaram no centro, então não é provável que os mesmos se mudem, já que imóvel é um bem duradouro, mas os órgãos do governo podem ser deslocados para São José e adjacências, já que isso tiraria o sufoco da ponte na hora do rush, e espalharia o desenvolvimento por cidades como Palhoça, Biguaçú, Paulo Lopes.
O que é interessante é que se espalhe os pontos de desenvolvimento para que se tenha uma perspectiva de crescimento sadio, frente ao trânsito, cada vez mais impossível presente na Ilha.
Já houve a iniciativa de mover o Centro Administrativo para a SC-401, aproveitando o fim do BESC, que mais teve um efeito Brasília, de afastar manifestantes, do que espalhar e promover o desenvolvimento na região instalada, além de privilegiar empreiteiras. Pode ter ajudado a desocupar uma área que agora vai ser usada pela justiça catarinense. E também pode ser que tenha ajudado a espalhar o centro administrativo. O que acaba de alguma forma prejudicando, já que órgãos afastados significa de alguma forma falta de comunicação entre os poderes, já que os três se reuniam na Praça dos Três Poderes, no centro.
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